28 de agosto de 2007

Breve história dos registros hospitalares

Foucault (1981, cap. VI), relata que até meados do século XVII os hospitais europeus não eram locais de cura, eram ‘morredouros’. O hospital era essencialmente uma instituição voltada para a assistência material, salvação espiritual e segregação dos pobres que estavam morrendo e ameaçavam a saúde da população. Somente a partir do último quarto do século XVIII, os médicos passam a ser o principal responsável pela organização hospitalar, transformando o sistema antes dominado pelos religiosos. De imediato as mudanças ocorreram, baseadas numa técnica predominantemente militar: a disciplina. A disciplina visava vigiar constantemente os indivíduos e seus respectivos registros. Destes registros, podemos citar: ·identificação de pacientes por etiquetas amarradas ao punho e fichas em cima de cada leito, com o nome do doente e doença; ·registro geral de entradas e saídas constando o nome do paciente, o diagnóstico médico, a enfermaria que ocupou e as condições de alta ou óbito; ·registro de cada enfermaria, feito pela enfermeira-chefe; ·registro da farmácia, com as receitas despachadas para cada paciente; ·registro médico, com anotações de diagnóstico, receitas e tratamentos prescritos nas visitas aos pacientes internados. Foi aí que nasceu a discussão na prática médica. Já em 1785, o Hôtel-Dieu em Paris obrigava os médicos a confrontarem seus registros pelo menos uma vez ao mês. O processo evoluiu tanto que, desde 1918, praticamente todas as pessoas norte-americanas que tenham sido atendidas em hospitais possuem um prontuário (MacEachern, 1937 – Dick e Steen, 1991). As primeiras iniciativas para criação de um prontuário eletrônico datam do final da década de sessenta em algumas universidades americanas como a Duke University Medical Center e a Harvard Medical School. A Duke criou o TMR (The Medical Record) e Harvard o COSTAR (Computer Stored Ambulatory Register). Em 1991, o Institute of Medicine da National Academy of Sciences publicou um estudo entitulado ‘The computer-based patient records: an essential technology for healt care’. Em revisão datada de 1997, o estudo recomendava a adoção do prontuário eletrônico como padrão para os registros médicos e outros relacionados a assistência ao paciente. Em 1993, o mercado americano de sistemas de informação em saúde já beirava US$ 7 bi com previsão de crescimento de 46,7% em três anos. Os hospitais gerais ou especializados e serviços ambulatoriais representavam 65% deste mercado (Dorenfest, 1994). Em 1997, um estudo mostrou que 71% dos hospitais americanos com mais de 100 leitos tinham dado início à implantação de alguma forma de prontuário eletrônico (Dalander, Willner e Brasch, 1997). Em 1998, Menduno efetuou um levantamento, constatando que um terço dos sistemas de saúde americanos possuíam algum tipo de registro eletrônico. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) reúne profissionais interessados no tema, promovendo encontros anuais entre estes e o Medical Records Institute. As universidades brasileiras que desenvolvem estudos neste setor são a Escola Paulista de Medicina (CI-EPM) a UNICAMP e a USP. Institutos ligados ao Hospital das Clínicas, Instituto do Coração e Instituto da Criança também desenvolvem projetos pioneiros nesta área. Alguns hospitais, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, têm discutido e criado projetos piloto de implantação dos prontuários eletrônicos. Finalmente, em 2002 este assuno vem à tona, mostrando que as instituições precisam melhorar a qualidade de suas informações, para otimizar recursos e eliminar gastos. Só assim sobreviverão num mundo que antes era exclusivo para as indústrias do nosso país.

7 de agosto de 2007

Manifesto de um cachorro corporativo

Um cachorro… um simples cachorrinho… Mas que chance terá ele para sobreviver neste nosso mundo globalizado? 
 
Este grupo de indivíduos - os cachorros - podem ser comparados ao nosso modelo social-capitalista onde vemos desde cachorros emergentes até os submergentes (aqueles me morrem afogados num alagamento qualquer da cidade). 
 
Tudo, é claro, depende da configuração dos seus respectivos mapas astrais no instante em que eles nascem. 
 
Vejam, por exemplo, o cachorrinho de uma determinada ’socialite’. Ele precisa acordar, passear, tomar banho, se alimentar, dormir, acordar, passear, etc. Pode ser vítima de profundo stress se o dono precisar se ausentar por mais de duas horas! 
 
Na outra ponta, temos o cachorro Zezinho, que precisa comer o que encontrar pelas ruas e, com sorte, morrerá cedo num daqueles alagamentos já mencionados. 
 
Entretanto, o que eu gostaria de descrever é a vida de um grupo especial desta comunidade - o cachorro corporativo. Este cachorro, em geral vem acompanhado de seu ‘pedigree’ universitário e ávido por começar a proteger a casa de seu dono, com eficiência e determinação. 
Já o seu dono, como todo humano que se preze, dará a devida atenção ao cachorro até o exato momento em que este se tornou sua propriedade… 
 
O tempo passa… passa… passa… 
 
O cachorro cresceu, engordou e perdeu sua agilidade. Quando o dono percebeu a situação, conversou com o mesmo e informou que estaria providenciando uma casinha maior, mais confortável, para atender às suas expectativas. 
 
Novamente, o tempo passa… passa… passa… o dono troca de carro, gasta com festas e o tempo? Passa… passa… passa. 
 
É nessa hora que o cachorro corporativo volta a se deprimir! Ele cresce por si só, mas seu dono sempre irá achar que onde ele está é o melhor para ele. Então, qual seria a solução? 
 
Uma das alternativas seria procurar um lugar onde algum outro dono lhe oferecesse uma casinha maior, com maior conforto e maior quantidade de alimentos - eventualmente até, com possibilidades de arrumar uma parceira e constituir família. 
 
Uma segunda opção, seria abandonar o dono atual e tentar contruir uma casinha em qualquer outro lugar, viver do alimento que conseguir caçar, impor seu território. Poderia se a melhor chance de sua vida. Viver para sempre, sem depender do dono. 
 
Mas é aí que ele se revela um cachorro corporativo. A casinha é baixa, apertada, pouco confortável. Mas continua recebendo alimentos todo o dia e tomando banho ao menos uma vez por semana. 
Todo este mundo pela frente, novas opções, novos desafios, novos ideais… E o medo de abandonar a vida segura que possui hoje! Com sorte, quando morrer, seu dono poderá lhe enterrar num saco plástico - antes de comprar um outro… 
 
Vejam, meus amigos, não é ruim ser um cachorro corporativo. Apenas não se deixe morrer sendo apenas mais um. Este cachorro não é ’socialite’ mas poderá obter sucesso através de seu próprio esforço. 
Para terminar, um ditado popular: “Quem muito espera… morre de velhice!”. 
 
** Março/2001 **