28 de outubro de 2008

Um dia de inverno

Está frio… A cidade nublada, em tons acinzentados, desperta sentimentos depressivos sobre uma mente outrora ávida e vibrante.

O horário? É um pouco depois do almoço… 14:00. Enquanto caminho pensando nas cores que hoje não brilham, esforço-me para desviar das pessoas. Todas no meu caminho… será que estou na contra-mão do mundo? Ao menos não estou sozinho. Alguns outros tentam se desviar dos outros, inclusive dos que se desviam de mim.

O caos, a confusão… Por que sempre tentamos por ordem nas coisas se a ordem natural das coisas é o caos? O caos que gera confusão é o mesmo caos que põe o mundo em ação.

Corro para não chegar atrasado. Chegar aonde? Atrasado para quê? Às vezes não me recordo dos detalhes. Só vejo uma mensagem chegando no celular, dizendo para onde ir e com quem falar.

A chuva começa a cair. Isso só acentua o cinza da cidade e o cinza na minha mente. A água aumenta o frio e o frio congela meu coração. Já não tolero as pessoas das quais tentava me desviar. Jogo meu corpo contra pedestres incautos que murmuram palavras ofensivas…

Após todo o sacrifício, chego ao lugar combinado. Pergunto pelo meu interlocutor… O infeliz não virá! A chuva e o frio fizeram com que ele se ausentasse.

MALDIÇÃO!!! Tanta tecnologia, comunicação sem fio, “wireless”, o escambau e algumas pessoas primam pela singela satisfação em dizer que fulano não veio… Sei que por dentro ela ri de mim e pensa “mais um palhaço que poderia ter ficado em casa…”.

Para piorar a chuva que aos poucos caía se transforma em tempestade. A mesma tempestade que em meus pensamento se formam, elaborando planos para me vingar destas pessoas que zombam de minha posição…

Trinta minutos depois, reconheço um vulto que passa por mim… Era a atendente do Sr. Fulano, indo para o aconchego do seu lar… Minha doce vingança toma forma quando a vejo com seu frágil guarda-chuva driblando a multidão alvoroçada.

Mentalizo a desgraça, como o corvo num filme de terror… Uma poça, um ônibus, um banho… Por momentos vibro de alegria… Atingi meu vil objetivo. Se a vingança é um prato servido frio, o meu foi frio e com água… gelada!!!

Escrito inicialmente em 24/09/2002.