19 de junho de 2009

Clouds in here.

São Paulo, 15 de junho de 2009.


Mais uma manha veio trazendo mais uma chance de superarmos o dia anterior.
O sol está brilhando lá fora, mas pela minha janela só consigo ver as sombras que se projetam contra o solo.

Os pássaros cantam alegrando a vida das pessoas que tem o privilégio de ouvi-los de verdade, já que a maioria passa sem perceber a música que vem das árvores.

A vida é assim mesmo... Lutamos todos os dias para sobreviver e não percebemos que morremos um pouquinho a cada segundo.

Caminho pela casa sozinho ouvindo o som de meus passos cansados e sonolentos.

Vou à cozinha e coloco meu café preto para coar.

Ando de olhos entreabertos até chegar ao banheiro. Olho no espelho, do mesmo jeito que faço todos os dias, mas nunca me lembro se ontem a visão era a mesma de hoje.

Não reconheço mais o cara do espelho. Ele parece muito cansado, abatido.

Eu gostaria de poder olhar novamente pelas janelas de manha e sentir que esse é mais um daqueles momentos em que nos encontramos com as fantasias de nossos sonhos.

Gostaria que esses sonhos pudessem voltar enquanto durmo para me mostrar todos os lugares para onde eu ainda posso ir... Lugares onde é sempre muito melhor quando estamos juntos.

Lavo meu rosto enquanto o aroma suave do café vai invadindo cada cômodo.

De olhos fechados, respiro fundo e me deixo levar pelo aroma. Aos poucos vou me perdendo em pensamentos melhores, torcendo para que quando eu abrir meus olhos, veja a minha frente aquele garoto que se preparava para ir à escola, para brincar e ser feliz sem ter obrigação disso.

Mas não adianta, meus olhos se abrem e ainda vejo o homem cansado que ali estava há pouco.

Meu café está pronto.

Como uma fatia de pão com um pouco de requeijão, tomo um café preto quente e saio para encarar o dia.

As pessoas na rua parecem presas em seus pequenos mundos, cheios de nada... Alguns têm mais sentimentos que outros, mas de uma maneira geral, são vazios e solitários.

Grandes tolos!

Não sei o que quero da vida. Sei apenas que não estou muito contente com a falta de realizações.

Os amigos estão mais distantes, a inspiração mais escassa, as páginas cada vez mais difíceis de serem preenchidas, a leitura está sem graça, eu estou sem graça, a vida também, está tudo igual, frio, chato.

Preciso entender o que está acontecendo antes que não possa mais corrigir tudo isso.

Vou colocar a confusão em uma jarra e mexer até ficar homogêneo.

Depois será preciso temperar com um pouco de tudo, equilibrar a receita para que nada sobre ou seja demais.

Acho que essa será a única chance de tirar as nuvens aqui de dentro.

Estou farto das mentiras e jogos de cena. Essa peça de humor negro está acabando com todos nós.

Obrigações é o que temos, ninguém nos pergunta se isso é o que precisamos.

Não quero mais jogar.

Quero outra coisa para mim, quero viver mais. O mundo tem tantos lugares legais para se visitar, tanta gente interessante para se conversar, mas essa jaula não me deixa sair.

Vergonha.

Vergonha de sorrir quando todos estão sérios... Mesmo que a cena seja cômica...

Qualquer hora dessas crio coragem e viro tudo de ponta cabeça.

Pego o carro e saio por aí, vou ver o mar sem compromisso com a hora de chegar e ir embora.

Quando chegar lá, quero me sentar na areia e ficar ali, parado, quieto, respirando calmamente, apenas observando o tempo passar no compasso das ondas que vem e vão.

Coragem.

De tentar sem medo de se arrepender depois.

De compartilhar sentimentos sem vergonha de que pareçam piegas.

De acreditar que tudo é possível, que tudo pode ser encontrado aqui, bem perto, em nossos corações.

De aprender com um erro, e não comete-lo novamente.

Felicidade.

E um sentimento que deveríamos trazer sempre conosco.

Trazer a alegria conosco é encher qualquer lugar com amor.

Precisamos encontrar o que precisamos para isso... para sermos felizes!

Engraçado. Vivemos tentando achar alguma coisa para nos tornarmos felizes, mas são poucos aqueles que procuram no lugar certo...

Vamos lá! Tirem as pedras do caminho e vejam que as maiores são colocadas por nós mesmos...

Riam. Mas muito. Até a barriga doer.

Se não puderem fazer isso, mesmo sem um motivo especial, talvez seja por que a criança que fomos realmente já morreu, e nesse momento, não adiantará ressuscita-la aos berros...

Riam. Sorriam para o mundo e ele lhe devolverá os dados da sua vida para que você seja capaz de jogar novamente... Sem medo.

Quem sabe aí vocês perceberão quem realmente são e o que o Destino lhes reserva.